Neemias Intercede por Jerusalém
Neemias 1-2:8
Os eventos neste livro se iniciam no ano
445 a.C., ou seja, treze anos
depois da saída do sacerdote Esdras para Jerusalém. O mesmo rei Artaxerxes
(também conhecido como Longimanus) ainda se encontrava no trono em Susã,
capital da Pérsia.
Neemias é usado por muitos como exemplo de um líder eficiente:
1. Definiu
um objetivo para alcançar.
2. Analisou
as várias opções e formou uma estratégia.
3. Motivou
outros para participarem do seu projeto.
4. Delegou
autoridade e distribuiu tarefas.
5. Supervisionou
o trabalho e verificou o desempenho de cada um até o cumprimento do projeto.
A história é contada pelo próprio Neemias, que ocupava o importante cargo de
copeiro do rei.
Seu irmão Hanani havia vindo de Judá com alguns outros judeus, e Neemias
perguntou-lhes como estavam passando os judeus que originalmente haviam
escapado ao cativeiro e haviam permanecido na terra, bem como Jerusalém.
Jerusalém, além de ser a antiga capital que representava a identidade nacional
dos judeus, era também a sua cidade santa, abençoada com a presença especial de
Deus no templo.
A resposta foi desanimadora: os judeus descendentes dos que haviam ficado na
terra estavam em grande miséria e desprezo, e o muro da cidade estava fendido,
e suas portas queimadas a fogo.
Sabemos que Esdras havia promovido uma purificação e uma nova consagração a
Deus do povo em Jerusalém, mas em seu livro ele nada diz sobre a reconstrução
do muro em volta da cidade, que havia sido destruído. Há uma referência à
reconstrução de um muro, mas parece que é apenas o do templo, no tempo em que
este estava sendo reconstruído por Zorobabel.
No entanto, é provável que tenha sido reconstruído em parte, pois Neemias
foi informado que o muro estava fendido, e suas portas queimadas a fogo. O muro
de uma cidade naquele tempo dava maior segurança aos habitantes, impedindo a
entrada de pessoas e animais a não ser pela porta, e facilitando a defesa
contra os inimigos.
Essas notícias trouxeram grande amargura e tristeza a Neemias, ao ponto de
assentar-se, chorar, e lamentar por alguns dias. Também jejuou e orou perante o
Deus dos céus.
Neemias desejou assumir ele próprio a responsabilidade pela recuperação do
povo e de Jerusalém, a fim de trazer glória a Deus e restaurar a presença e o
poder de Deus no meio do Seu povo. Ele levou esse assunto a Deus em sua oração.
Vejamos a estrutura da sua oração nesta ocasião:
1. Louvou
a Deus pela Sua grandeza e fidelidade
2. Suplicou
que Deus o ouvisse
3. Confessou
os pecados do povo, entre o qual se incluía
4. Confessou
os pecados próprios
5. Pediu
que Deus se lembrasse da sua promessa de que, se o seu povo se convertesse a
Ele e guardasse os Seus mandamentos e os cumprisse, Ele os ajuntaria e traria
de volta à sua terra, pois este ainda era o Seu povo.
6. Empenhou-se
na causa.
7. Pediu
que Deus lhe desse sucesso e fizesse com que tivesse simpatia do rei.
Neemias estava numa situação singular para falar com o rei. Como copeiro de
confiança, que testava os alimentos que vinham à mesa real, ele estava
regularmente diante de Artaxerxes.
Neemias havia se preparado, com essa oração diante de Deus, para apresentar
a sua proposta ao rei quando chegasse a ocasião propícia. Mas era preciso
esperar até que o rei lhe desse a oportunidade de falar. Também cada um de nós
é singular e capaz de servir a Deus e aos Seus propósitos no lugar em que nos
encontramos, desde que estejamos dispostos e preparados para isso.
Neemias pediu a Deus que lhe desse sucesso em sua empreitada - mas o sucesso
que ele pedia não era para seu benefício, posição ou honra pessoal, mas para o
trabalho do Senhor. Quando estamos dentro dos propósitos de Deus, não devemos
ter receio em lhe pedir que Ele nos dê sucesso.
Houve uma demora de uns três ou quatro meses até que Neemias viu a resposta
de Deus às suas orações. Ele continuava servindo ao rei normalmente, nada
dizendo sobre o que o perturbava tão profundamente.
Mas precisava esconder a sua aflição, e não mostrar tristeza na presença do
rei pois isso seria mal visto (Ester 4:2): os monarcas temiam ser assassinados,
e como envenenamento era bastante usado para esse fim, qualquer mudança para
pior na fisionomia de um copeiro causava suspeita.
Eventualmente Neemias não conseguiu mais esconder a sua angústia e o rei se
perturbou com a mudança perceptível no seu semblante e exigiu uma explicação.
Então Neemias temeu grandemente diante do rei: o rei poderia executar
sumariamente quem não o agradasse, e Neemias não sabia se o rei iria se
compadecer dele ao lhe ser esclarecido o motivo da tristeza, ou se ele iria se
enfurecer e condená-lo à morte.
Neemias não se envergonhou de sentir temor, mas não permitiu que o seu temor
o impedisse de falar a verdade ao rei. Nunca devemos permitir que nosso temor
nos impeça de fazer aquilo que sabemos é a vontade de Deus. Isso seria admitir
que nosso temor émais forte do que Deus. Ele é maior do que todos os nossos
temores.
Reconhecer o motivo por que estamos temerosos é o primeiro passo para
entregá-lo a Deus. Se Deus nos chama para uma tarefa, Ele nos ajudará a
cumpri-la.
Neemias imediatamente assegurou o rei da sua fidelidade, com a exclamação
"
viva o rei para sempre!". Em seguida deu uma explicação
lógica, em poucas palavras, que esclareceu o verdadeiro motivo da sua tristeza.
O rei prontamente mostrou-se misericordioso e quis saber o que Neemias
queria dele. Neemias quis agir dentro da vontade de Deus e novamente orou ao
Deus do céu, pedindo a Sua direção sobre o que deveria dizer (decerto uma
oração breve e silenciosa …).
Neemias pediu que o rei o enviasse a Judá, à cidade dos sepulcros dos seus
pais (Jerusalém, mas Neemias não disse o nome) com a incumbência de a
reedificar.
Artaxerxes indagou quanto tempo duraria a viagem, e quando Neemias voltaria.
Não sabemos a resposta de Neemias a essas perguntas, mas eventualmente Neemias
se ausentou da Pérsia por pelo menos doze anos (cap. 5:14).
O rei deve ter se dado por satisfeito, pois Neemias se animou a pedir também
cartas para os governadores dalém do rio, para que permitissem sua passagem até
Judá e uma carta para Asafe, guarda do jardim do rei, para que lhe desse a
madeira que precisasse para a sua casa e para o muro da cidade. Tudo lhe foi
concedido, segundo a boa mão de Deus sobre ele.
Neemias tinha uma boa posição, influência e provou ser um bom administrador,
mas reconheceu que foi porque a boa mão de Deus estava sobre ele que ele teve
sucesso nessa entrevista com Artaxerxes. Ele sabia que, sem isso, todo o seu
esforço seria
em vão.
Lembremos sempre que em Deus está a nossa força e dele provêm
os nossos dons.
O decreto assinado por Artaxerxes em seguida, permitindo que Ananias
construísse os muros de Jerusalém, cumpriu uma profecia feita por Daniel
noventa e três anos antes (Daniel 9:25), assim como o decreto anterior de Ciro
(Esdras 1) cumprira uma profecia de Jeremias (Jeremias 29:10).
O Início da Reconstrução dos Muros
de Jerusalém
Neemias 2:9 - 3:32
Munido das cartas de salvo-conduto do rei e escoltado por chefes do exército
e cavaleiros, Neemias foi até Jerusalém, apresentando-se aos governadores pelo
caminho.
Dois inimigos de Israel, ao saberem que ele tinha ido para procurar o bem
dos israelitas, se desagradaram imensamente. Eram o horonita Sambalate e o
"servo" amonita Tobias.
Sambalate era originário de Horonaim, uma cidade moabita, e ocupava uma
posição de autoridade em Samaria, antiga capital do reino das dez tribos de
Israel. Os moabitas, descendentes do filho mais velho de Ló, eram perenes
inimigos dos israelitas.
Tobias era amonita: os amonitas eram descendentes do segundo filho de Ló e
também foram grandes inimigos dos israelitas. Tobias usava sua grande
influência para se opor aos judeus.
Três dias após sua chegada em Jerusalém, sem ter revelado a ninguém o que
pretendia fazer, Neemias fez um reconhecimento do muro da cidade e das suas
portas, à noite, com uma pequena escolta. Ele tomou cuidado para não atrair
atenção, e manter segredo sobre os seus planos para despistar os seus inimigos.
Neemias conseguiu assim ver pessoalmente os muros fendidos e as portas
queimadas, e o entulho. Conhecendo o problema em primeira mão, ele estava em
melhores condições para resolvê-lo.
Só depois de feita a inspeção, e de ter avaliado o trabalho a fazer, foi que
ele convocou os judeus, os nobres, os magistrados e os mais que faziam a obra,
para uma reunião. Nela ele os exortou a reedificar o muro para acabar com a
vergonha em que se encontravam, e contou como a mão de Deus lhe fora favorável
e o próprio rei o havia estimulado em sua missão de reedificar o muro e a
cidade de Jerusalém.
Todos aqueles líderes do povo então exclamaram "
levantemo-nos e
edifiquemos!" e prontamente se lançaram com as mãos à obra.
Mas os seus inimigos Sambalate e Tobias, aos quais se juntou também outro,
Gesém, o arábio, procuraram desanimá-los com zombaria e desprezo, e a falsa
acusação de estarem querendo se rebelar contra o rei.
Sempre que iniciamos um trabalho na obra de Deus encontramos aqueles que
procuram nos desanimar, às vezes ridicularizando o nosso objetivo, ou
procurando nos convencer que somos incapazes.
Neemias não se deixou intimidar e replicou com firmeza que ele e os seus
companheiros se empenhariam na edificação à qual o Deus dos céus, a quem
serviam, daria sucesso, mas que eles três nada tinham a ver com isso: eles não
tinham parte, nem justiça, nem memória em Jerusalém.
Temos em seguida uma lista detalhada dos que desenvolveram a obra de
reconstrução do muro e o que fizeram. Seu nomes ficaram registrados através dos
séculos nestas páginas. Pouco ou nada sabemos a respeito de cada um salvo a
maneira em que cada um cooperou para que o muro fosse reconstruído, com as
portas.
Jerusalém era uma cidade grande para a época, e precisava de várias portas
porque várias estradas convergiam nela. O muro de cada lado dessas portas
pesadas de madeira era mais elevado e grosso para agüentar as portas e acomodar
os soldados encarregados de protegê-las contra ataques. Algumas portas ficavam
entre duas torres para maior segurança.
Em tempos de paz as portas eram lugar de grande atividade, com reuniões das
câmaras municipais, e feiras livres para compra e venda de mercadorias,
mantimentos e objetos domésticos. A construção do muro da cidade e das suas
portas representava não somente uma prioridade militar de defesa mas também um
incentivo ao comércio.
Observamos que:
·
O sumo sacerdote Eliasibe e os demais sacerdotes
são os primeiros a serem mencionados. Eles não deixaram que a sua vocação
espiritual no templo os impedisse de "baixarem" para o trabalho
braçal envolvido na reconstrução. A Porta das Ovelhas era a porta usada para
trazer ovelhas para dentro da cidade para os sacrifícios no templo. Neemias
convocou os sacerdotes para consertá-la com a respectiva parte do muro,
respeitando a área que mais interessava a eles e ao mesmo tempo enfatizando a
prioridade da adoração. Apropriadamente, os sacerdotes também consagraram a Porta
das Ovelhas e duas torres, chamadas Meá (Cem) e Hananael (Dado Graciosamente
por Deus).
·
avia um mercado de peixes junto à Porta do
Peixe, onde vinha dar a estrada principal por onde vinham os comerciantes de
Tiro, do mar da Galiléia e de outras regiões de pescaria para vender os seus
produtos
·
Os nobres da cidade de Tecoa se recusaram a
colaborar. Foram os únicos aqui mencionados que não apoiaram a obra de
reconstrução do muro. Freqüentemente encontramos, mesmo no trabalho de Deus,
aqueles que se acham superiores ao trabalho pesado. É melhor, às vezes, não
tomar conhecimento deles. A sua falta de cooperação será sempre lembrada pelos
demais que trabalharam.
·
Por outro lado, alguns homens bem colocados na
sociedade são mencionados como tendo trabalhado no muro : Uziel, filho de
Haraías, um dos ourives; Hananias, filho de um dos boticários; Refaías, filho
de Hur, maioral da metade de Jerusalém; Salum, filho de Haloés, maioral da
outra meia parte de Jerusalém, ele e suas filhas.
·
As filhas de Salum se notabilizaram por ajudarem
seu pai neste trabalho próprio para homens: era uma emergência nacional. Quase
todos se dedicaram à tarefa voluntariamente, colaborando da melhor forma que
podiam.
Neemias soube fazer com que cada um visse a importância e o significado do que
fazia dentro deste grande projeto, assim assegurando trabalho de alta qualidade
e satisfação pessoal de todos.
As portas nos dizem:
1.
A porta das Ovelhas: foi por onde Cristo entrou em
Jerusalém (João 5:2). Ele é o Cordeiro de Deus.
2.
A porta do Peixe: "
Vinde após mim, e eu vos farei
pescadores de homens" (Mateus 4.19). Ele procurou os Seus discípulos.
3.
A porta Velha: "
Ponde-vos nos caminhos, e vede, e
perguntai pelas veredas antigas, qual é o bom caminho, e andai por ele; e
achareis descanso para a vossa alma" (Jeremias 6:16). O Senhor Jesus
disse: "
Eu sou o caminho …"
4.
A porta do Vale: "
Ainda que eu andasse pelo vale
da sombra da morte, não temeria mal algum, porque tu estás comigo"
(Salmo 23:4). A sombra da morte não traz temor ao cristão.
5.
A porta do Monturo: "
Se confessarmos os nossos
pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda
injustiça" (1 João 1:9). O sangue de Cristo nos purifica.
6.
A porta da Fonte: "
Quem crê em mim, como diz a
Escritura, rios de água viva correrão do seu ventre." (João 7:38). O
Espírito Santo habita no crente quando ele se converte e nasce de novo.
7.
A porta das Águas: "
Vós já estais limpos pela
palavra que vos tenho falado" (João 15:3). A Palavra de Deus nos
lava, como água.
8.
A porta dos Cavalos: "
Sofre, pois, comigo, as
aflições, como bom soldado de Jesus Cristo" (2 Timóteo 2.3). Os
cavalos eram usados pelos soldados na guerra. O crente é um soldado de Cristo.
9.
A porta Oriental: era a primeira porta a ser aberta, no
nascer do sol, indicando o fim da noite. O crente espera também o raiar do dia
quando o Senhor Jesus voltará para levá-lo consigo.
10.
A porta de Mifcade (
revista, registro): "
todos
devemos comparecer ante o tribunal de Cristo, para que cada um receba segundo o
que tiver feito por meio do corpo, ou bem ou mal" (2 Coríntios 5:10).
Cada crente receberá um galardão correspondente ao que fez pelo seu Senhor aqui
na terra.
A Vigilância contra os Inimigos
Neemias 4
Sambalate e Tobias, tradicionais inimigos dos judeus, se enfureceram ao
vê-los organizados e empenhados na reconstrução dos muros de Jerusalém.
Sua primeira reação foi de sarcasmo e de desprezo. Diante dos seus irmãos e
do exército de Samaria, o governador Sambalate zombou dos que edificavam
dizendo:
·
"Que fazem estes fracos judeus?"
Os judeus não tinham força militar para se impor sobre os seus vizinhos, e ele
os despreza por isso diante do seu próprio exército.
·
"Permitir-se-lhes-á isso?"
Sambalate era governador de Samaria e poderia ter ambicionado governar a Judéia
também, mas a vinda de Neemias teria prejudicado seus planos. Ele põe em dúvida
a autoridade de Neemias.
·
"Sacrificarão?" O sacrifício
aos deuses era uma prática usada pelos povos pagãos para conseguir a sua ajuda
em suas empreitadas. Esta é uma ironia de Sambalate, que não cria no SENHOR, o
Deus de Israel.
·
"Acabá-lo-ão num só dia?" Ele
se surpreendeu com a grande disposição dos judeus para o trabalho, e procurou
desanimá-los apontando para o longo tempo que seria necessário para a conclusão
da obra.
Estas perguntas, feitas em tom de zombaria, tinham alguma base. O povo
estava ciente da sua fraqueza e da enormidade da obra que haviam começado, e da
oposição que estava surgindo por parte dos outros povos entre os quais
conviviam naquela região. Tinham já bons motivos para duvidar se realmente
teriam condições de completar a obra por si próprios. O inimigo usa o escárnio
como uma arma, e ela pode cortar profundamente, causando o desânimo e o
desespero.
Tobias, por sua vez, acrescentou que "
Ainda que edifiquem, vindo
uma raposa, derrubará facilmente o seu muro de pedra". Para que
empregar tanto trabalho e tempo em alguma coisa sem valor?
São perguntas que nos vêm imediatamente quando temos diante de nós um
projeto de grande envergadura: Somos capazes? Estamos autorizados? Temos a
aprovação de Deus? Podemos dispor de todo o tempo que vai levar até terminar?
Quando terminado valerá a pena todo o esforço despendido?
Sambalate e Tobias sugeriam que o povo respondesse "não" a todas
essas perguntas. Neemias não tinha a menor dúvida que a resposta era
"sim" e conhecia muito bem a razão por que os seus inimigos
procuravam levantar dúvidas entre o povo, portanto ele sequer condescendeu a
falar com eles.
Notemos que Neemias não procurou vingar-se a si próprio, mas deixou a
justiça nas mãos de Deus, pedindo que fizesse cair a vergonha sobre a cabeça
dos seus inimigos, para que fossem um despojo em terra de cativeiro e que nunca
os perdoasse, porque haviam irritado a Deus diante dos edificadores.
A nós é mandado "
Não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai
lugar à ira, porque está escrito: Minha é a vingança; eu recompensarei, diz o
Senhor. Portanto, se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede,
dá-lhe de beber; porque, fazendo isto, amontoarás brasas de fogo sobre a sua
cabeça. Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem."
(Romanos 12:19-21).
O povo se dedicou cordialmente ao trabalho, chegando até à metade da altura
do muro. Os inimigos Sambalate e Tobias, bem como os arábios e os amonitas, eram
informados do progresso que ia sendo feito. Ao saber que os reparos tinham
avançado e que as brechas estavam sendo fechadas, ficaram furiosos e se
juntaram para planejar um ataque a Jerusalém e causar confusão.
Novamente Neemias e os seus companheiros oraram a Deus e também colocaram
guardas de dia e de noite para se protegerem. Devemos fazer o que podemos e
Deus suprirá o que nos falta.
Neemias constantemente combinava a oração com preparação, planejamento e
ação. A oração assegurava o apoio divino naquilo que ele sabia que correspondia
com a vontade de Deus. É a atitude correta daquele que anda com Deus: primeiro
assegurar-se qual seja o desejo de Deus, em seguida orar pedindo o Seu apoio e
direção, em seguida colocar mãos à obra. Devem-se fazer as três coisas.
Tendo cuidado da defesa contra o inimigo externo, Neemias teve também que
enfrentar o desgaste que estava acontecendo internamente entre os judeus,
causado pelo desânimo e o medo:
·
Os carregadores se cansavam com o trabalho
constante e ainda havia muito entulho para tirar. Estavam já se convencendo que
nunca iriam conseguir reconstruir o muro por si mesmos.
·
Os que moravam perto dos inimigos, ouviam quando
eles falavam entre si planejando ataques de surpresa para matar os que
trabalhavam e acabar com o seu trabalho, e corriam amedrontados até Neemias
para dizer que seriam atacados por todos os lados.
Imediatamente Neemias tomou as providências devidas: escolheu alguns do
povo, pelas suas famílias, como sentinelas, bem armados com espadas, lanças e arcos,
e os posicionou atrás dos pontos mais baixos do muro, que eram os mais
vulneráveis, nos lugares abertos de onde podiam ver melhor.
Neemias colocou cada homem na posição em que podia ver e defender a sua
própria família, o que lhes daria mais tranqüilidade. Se estivessem longe, eles
estariam em dúvida sobre a sua segurança. Ele próprio os inspecionou
rapidamente para ter certeza que estavam bem colocados e armados. Neemias
também disse ao povo que não tivessem medo pois o Senhor é grande e temível, e
estimulou-os a lutar pelas suas famílias.
Com isso os inimigos descobriram que Deus havia frustrado a sua trama e que
haviam perdido o elemento de surpresa no ataque que planejavam. Todo o povo
então se voltou para o muro, cada um para o seu trabalho.
Quando sentirmos que não podemos dar conta de um projeto, por causa das
dificuldades e mesmo oposição que estamos enfrentando, é bom lembrar o
propósito de Deus para a nossa vida, e o valor do que fazemos para Ele, pois
Ele tem condições para nos suprir o que nos falta, e de abafar toda a oposição.
Os trabalhadores estavam espalhados ao longo do muro. Para que o trabalho
não parasse, mas ao mesmo tempo estivessem preparados para algum ataque,
Neemias ordenou que metade fizesse o trabalho de construção enquanto a outra
metade permanecia armada de lanças, escudos, arcos e couraças. Os oficiais lhes
davam o seu apoio.
Com esse plano de defesa, o povo estava unido e protegido. Devemos também
estar unidos como igreja de Cristo dando apoio uns aos outros, e orando uns pelos
outros. Precisamos uns dos outros em nosso trabalho na obra de Deus e em nossa
defesa contra o inimigo das nossas almas.
Os que se moviam de um lugar para outro, carregando entulho e materiais,
portanto isolados, faziam o trabalho com uma mão e com a outra seguravam uma
arma - também cada um dos construtores trazia na cintura uma espada enquanto
trabalhava.
O nosso inimigo, o diabo também anda ao redor procurando tirar vantagem das
nossas fraquezas. Devemos estar alertas, cada um de nós, usando a armadura que
Deus nos dá (Efésios 6:13-18).
Neemias também introduziu um sistema de alarme, para que todos pudessem se
juntar ao ouvir o som da trombeta tocada pelo homem que estava com Neemias,
pois estavam espalhados ao longo do muro. O simples fato de saber que a
trombeta seria ouvida se houvesse uma emergência, seria suficiente para
tranqüilizar os trabalhadores. Não sabemos se houve algum incidente em que a
trombeta foi usada. Neemias confiava na proteção de Deus.
Neemias e seus companheiros mantinham vigilância constante, vestidos em
prontidão de dia e de noite. O crente também deve vigiar constantemente (1
Pedro 5:8). O texto no original hebraico da última sentença é obscuro, e não há
consenso entre as traduções.
Os muros de Jerusalém são terminados
Neemias 6
Os muros de Jerusalém haviam sido terminados. Mas estavam sem portas,
portanto a segurança contra invasores ainda não estava completa.
Os inimigos não haviam conseguido paralisar a obra de construção, como queriam,
mas pensavam que ainda havia uma oportunidade de deixar a cidade sem defesa se
pudessem impedir a colocação das portas.
A tática que empregaram foi de mandar chamar Neemias para vir conversar com
eles num dos povoados da planície de Ono, a trinta quilômetros de Jerusalém,
ostensivamente para chegarem a um acordo amigável. Eles não desejavam o bem
para Neemias.
É uma tática ainda muito usada pelo inimigo, Satanás. Ao invés de
abertamente atacar o trabalho de Deus, ele procura chamar o crente para
participar das atividades do mundo, para assim baixar a sua resistência contra
as más influências do mundo em sua vida.
As igrejas fiéis também são chamadas a participar do movimento ecumênico,
para então reduzirem a sua fidelidade aos mandamentos de Deus, a sã doutrina, e
se acomodarem às práticas libertinas das demais. O inimigo é o mesmo, usando a
mesma tática que usou contra Neemias.
Neemias prontamente mandou-lhes um mensageiro declarando que não podia
descer até eles porque estava executando um grande projeto. Ele sabia que eles
estavam tramando fazer-lhe mal, e nenhum bem iria resultar de uma conversa com
eles.
Nas igrejas de hoje também existem muitos que querem chegar a um acordo
conosco. Pensam que temos vistas curtas e que somos fanáticos por queremos
obedecer unicamente e fielmente à Palavra de Deus. É prudente fugir de tais
pessoas, e apenas nos juntarmos com os que querem se reunir apenas ao redor da
pessoa de Cristo.
Os inimigos não desistiram logo, e mandaram mensageiros por quatro vezes
mais com o mesmo convite. A oposição ao trabalho de Deus é sempre perseverante
A presença de Neemias nas obras era muito importante e eles sabiam disso. Tirar
Neemias do seu trabalho poderia até paralisar as obras. Mas Neemias continuou
recusando ir.
Por fim, o inimigo Sambalate lhe mandou uma carta aberta (para que outros
pudessem ler), contendo uma ameaça velada para maior efeito. Segundo disse na
carta, havia um boato circulando por ali segundo o qual os judeus estavam
reconstruindo o muro com o fim de se revoltarem contra a Pérsia, e fazer de Neemias
o seu rei. Ele estaria até subornando profetas para apoiarem seu direito ao
trono. Esse boato seria levado ao conhecimento do rei da Pérsia, e convinha a
Neemias ir conversar com ele primeiro.
Neemias não se deixou enredar: declarou categoricamente que nada do que
Sambalate dizia estava acontecendo e era pura invenção dele. Neemias sabia que
os inimigos queriam intimidar os judeus e enfraquecê-los para que não
terminassem a obra. Ele orou a Deus pedindo força para continuar.
Neemias procurou um espião e falso profeta chamado Semaías que estava
trancado em sua casa. Semaías então propôs que Neemias se encontrasse com ele
no templo, a portas fechadas, porque essa noite viriam matá-lo.
Neemias percebeu que ele estava mentindo, e que tinha sido contratado pelos
inimigos para amedrontá-lo para que cometesse um pecado e assim pudessem
difamá-lo e desacreditá-lo. Então recusou-se a esconder-se no templo, dizendo
que um homem como ele não deveria fugir e entrar no templo para salvar a vida.
Neemias foi sábio ao testar a mensagem do profeta antes de obedecer, vendo
então que era outra armadilha do inimigo. Certas pessoas usam o nome de Deus
para dizer que sabem a vontade de Deus, quando seus motivos são outros. Devemos
examinar os que se dizem mensageiros de Deus para ver se o que dizem confere
com a Palavra de Deus.
Neemias pediu que Deus se lembrasse do que faziam os seus inimigos, bem como
da traição deste e de outros profetas que procuravam intimidá-lo.
O muro foi terminado em cinqüenta e dois dias, tendo Neemias que planejar e
dirigir os trabalhos bem como defender-se dos inimigos dos israelitas. Estes
inimigos o haviam atacado pessoalmente com boatos (v.6), mentiras (vv 10-13), e
relatórios falsos v.17).
Os ataques pessoais doem, e quanto a crítica não é justificada, podem
facilmente levar ao desespero. Ao fazer o trabalho de Deus é possível ser alvo
de ataques ao caráter. O exemplo de Neemias deve ser seguido, confiando em Deus
para o cumprimento da tarefa e deixando de lado os insultos não justificados.
Os inimigos haviam dito que os "fracos" judeus não completariam a
obra. A obra era grande demais, e os problemas enormes. Mas os homens e
mulheres de Deus, trabalhando juntos em tarefas especiais, podem resolver
problemas difíceis e atingir altos objetivos. Nunca deixemos que o tamanho de
uma tarefa ou do tempo necessário para executá-la nos impeça de levá-la avante.
Com a ajuda de Deus, se for da vontade dEle, tudo poderá ser feito.
O sucesso alcançado pelos judeus resultou em temor nos inimigos e povos
vizinhos, pois reconheceram que o SENHOR seu Deus estava com eles. Antes eles
haviam escarnecido dos judeus porque julgavam que tinham um deus fraco, que
pouco podia fazer por eles.
A construção do muro os tirou do seu engano, a agora olhavam aos israelitas
com novos olhos, com respeito e temor.
Também os nobres israelitas haviam mantido correspondência por todo esse
tempo com o inimigo Tobias, com quem eram aparentados e estavam comprometidos
por juramento. Eles elogiavam Tobias na presença de Neemias, e transmitiam para
Tobias o que Neemias dizia a respeito dele. Eram mais leais a Tobias do que a
Neemias, e desejavam que Neemias também desse atenção a Tobias.
Neemias continuou a tratar Tobias como inimigo de Israel, e Tobias continuou
a enviar cartas para intimidar Neemias.